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Beber cerveja reduz o risco de AVC?

29 Out 2023 - 12:34
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Beber cerveja reduz o risco de AVC?

Alega-se em várias publicações nas redes sociais que beber cerveja reduz o risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Um dos posts sugere que “os polifenóis encontrados na cerveja possuem propriedades antioxidantes que reduzem o risco de certas doenças”, como o AVC. Será verdade?

É verdade que beber cerveja reduz o risco de AVC?

Em declarações ao Viral, Filipe Machado, assistente hospitalar de Medicina Interna no Hospital Lusíadas Porto, e Cátia Carmona, neurologista e membro da Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), adiantam que não há evidência científica que comprove que beber cerveja reduz o risco de AVC.

De facto, aponta Filipe Machado, “existia alguma literatura contrária no que toca ao consumo de álcool, sobretudo em quantidades leves a moderadas”.

Contudo, frisa, “os estudos de randomização mendeliana e os estudos de coorte, de grandes populações, feitos sobretudo em países desenvolvidos, sugerem que o consumo de álcool não é protetor e aumenta o risco de acidente vascular cerebral”.

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No que toca à cerveja em específico, ambos os especialistas não têm conhecimento de nenhum estudo robusto que sugira os benefícios mencionados nas publicações em análise.

Nos posts, explica Filipe Machado, faz-se o levantamento de “um mecanismo possível com base nos constituintes da bebida”. No entanto, aponta, “o facto de a bebida poder ter uma plausibilidade, no fundo, biológica, não significa que isso se reflita em proteção do ponto de vista cardiovascular”.

O que se sabe, no geral, é que o consumo do álcool não reduz o risco de AVC. Pelo contrário, é um dos fatores de risco para a doença.

“O aumento da pressão arterial, a predisposição à ocorrência de arritmias, um estado inflamatório e alterações na coagulação poderão ser alguns dos mecanismos que justificam que o consumo do álcool aumenta o risco de acidente vascular cerebral”, sustenta Filipe Machado.

O especialista em Medicina Interna remete para um artigo recente publicado na revista Neurology – “uma das revistas mais conceituadas na área” – intitulado “Consumo de álcool como fator de risco para AVC agudo“.

O médico explica que os autores deste artigo concluem que “consumos de moderada e elevada quantidade associam-se a um aumento do risco de acidente vascular cerebral”. 

Por outro lado, continua, “consumos mais baixos ou mais esporádicos, em pequena quantidade, não se associam a AVC”, acrescenta, “o que não demonstra que o álcool seja protetor”.

Para mais, sabe-se que, “dentro dos padrões de consumo de álcool, o consumo do tipo binge drinking – consumos de elevada quantidade num curto espaço de tempo – aumenta muito o risco de acidentes vasculares cerebrais, sobretudo do tipo hemorrágico”, informa.

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Tendo em conta que “a hipertensão arterial é o principal fator de risco para AVC”, as recomendações “são muito claras: zero álcool, porque o álcool, ainda que em pequenas quantidades, tem um efeito de aumento da pressão arterial”. 

Nas diretrizes de 2018 para o tratamento da hipertensão arterial “falava-se num consumo de álcool considerável, que não trazia malefício”, traduzido em: “um copo para as mulheres e dois copos para os homens”. 

Contudo, as novas recomendações, publicadas há quatro meses, apontam que o objetivo é “caminhar para a cessação do consumo do álcool, tanto nos homens como nas mulheres”.

Como se pode prevenir um AVC?

Segundo os especialistas, existem dois tipos de fatores de risco de AVC: os que podem ser controlados e os que não podem. Sendo que “a idade” e “a genética” são aspetos inevitáveis.

Por outro lado, existem alguns “fatores de risco tratáveis”, tais como “a pressão arterial”, salienta Filipe Machado. 

Como “a hipertensão arterial é o principal fator de risco”, relembra o médico, “se tratarmos e controlarmos os valores da pressão arterial de forma adequada, estamos a diminuir o risco de ter um AVC”. 

Além disso, acrescenta, “a diabetes e dislipidemia também deverão ser adequadamente tratados e controlados para evitar estes eventos”.

É também importante “implementar medidas de estilo de vida”, que são “a base do tratamento de todos os fatores de risco cardiovascular”, aponta Filipe Machado.

Como aponta Cátia Carmona, “o que está recomendado é a prática de exercício físico regular e o combate ao sedentarismo”, bem como seguir “uma dieta mediterrânica”. 

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Tendo em conta que, de modo geral, “os portugueses pecam por fazerem uma dieta com muito sal”, aconselha-se a sua redução.

Para mais, destaca Filipe Machado, “é muito importante, a par das bebidas alcoólicas, não fumar”. 

Segundo o especialista, “sabe-se que o tabagismo é um fator de risco muito relevante neste tipo de doenças e duplica praticamente o risco de ter um acidente vascular cerebral”.

Ao eliminar “este conjunto de fatores de risco, é possível conseguir-se evitar perto de 80% de acidentes vasculares cerebrais”, conclui o médico.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Alimentação

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29 Out 2023 - 12:34

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